18 agosto 2006

Destino dos versos...

Interessante como, ao perceber outras interpretações, a dimensão da nossa realidade expande-se. Agora entendo o sentido de quando escritores e poetas escrevem que não sabem para onde vão seus textos, como num trecho de um dos poemas de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa):

Da mais alta janela da minha casa, com um lenço branco digo adeus, aos meus versos que partem para a humanidade.
E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos,
Porque não posso fazer o contrário,
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.
Ei-los que vão já longe como que na diligência,
E eu nem sequer sinto pena, como uma dor no corpo.
Quem sabe quem os lerá? Quem sabe a que mãos irão? (...)


Minha professora também já havia comentado na classe que, a partir do momento em que o autor compartilha o texto com os leitores, esse texto já não é mais dele e sim de cada leitor, pois realidades diversas vão sendo criadas a partir de cada leitura. À realidade que levou o artista a elaborar sua obra mesclam-se essas novas interpretações e a pluralidade dá margem a um campo vastíssimo, onde certamente novos frutos serão colhidos e oferecidos novamente, num processo contínuo que sempre renova a semeadura, engrandece a plantação e diversifica o objeto de colheita.

Irônica Mente - Vânia Sousa

Fantasiando desejos, volúpia
às palavras segue unindo-se
latejando em malícia, a artista
ousa avançar despindo-se...

Da fértil imaginação, alheia
condensa o devasso, latente
faz do ambiente que a rodeia
seu ócio criativo, constantemente...

É possível deduzir
que a artista navega
consciente?

Será verdade afirmar
que apenas verseja
enganosa, mente?

Mesmo com destino incerto, que meus versos possam ser acolhidos pelo coração de quem, por ventura, venha a lê-los.

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