19 setembro 2009

Loucos de Pedra...

Passando pelo blog da minha querida amiga Cátia, isto já há um bom tempo...rs...encontrei algo que realmente me chamou a atenção: era uma imagem, com um poema, assinado por "Loucos de Pedra". Fiquei intrigada e, curiosa que sou, fui dar uma pesquisada e agora resolvo compartilhar com vocês o que achei sobre estes maravilhosos entitulados "loucos de pedra", apreciem e percebam ao final que, certas vezes, a ignorância não tem limites:

Achei neste site: http://gougon2.tripod.com/id65.html

Artistas usam pontos de ônibus da Avenida W3 Sul para expor poesias e emocionam quem passa

Marcelo Abreu

Da equipe do Correio

Fotos: Carlos Vieira/CB


No meio do caos, a palavra lapidada. E assim se fez a poesia. A poesia que emociona e faz sonhar. Que acalma. Conspira. Revela segredos. Inventa caminhos. Reinventa amores. Dilacera corações. Perdoa. E deixa uma gente tentando entender o sentido da vida. Aliás, a poesia devia existir para isso. Não, isso não é trecho de obra poética. Nem sarau repleto de intelectuais sisudos discutindo a metafísica transcendental do ser. É apenas a poesia — a boa e simples poesia — que invadiu a rua. Deixou de ser incompreensível. Saiu dos livros. Fugiu das bibliotecas empoeiradas. Ganhou pernas. Mostrou a cara. Provou que pode ser fácil. E chegou aonde jamais se imaginaria: às paradas de ônibus. Sim, a poesia em Brasília agora habita o lugar de chegada e partida dos coletivos lotados. E uma gente, fora e dentro dos ônibus, pára e se emociona. Todos os dias, no meio da pressa e da desordem. Só isso já seria poesia.

A idéia surgiu da cabeça de um dos artistas plásticos mais criativos e inquietos da cidade, Henrique Gougon, de 58 anos. A parte de frente dos prismas colocados em cada ponto (aqueles que originalmente deveriam servir para indicar o trajeto dos ônibus, mas que estão detonados pela pichação e vandalismo), ele preencheria com poesia.

Idéia concebida, plano em ação. Junto com os Loucos de Pedras, grupo de artistas da cidade que trabalha com arte musiva (feita com mosaicos), Gougon idealizou como faria em cada parada. Primeira missão: escolher os poetas que mais se identificassem com a cidade. Depois, a poesia de fácil leitura e compreensão. Aquela que qualquer pessoa pudesse ler e entender.

E assim se fez. Primeira parada: 705/706 Sul. Poeta: Nicolas Behr. Nos dois prismas — que os artistas plásticos chamam de totem — o primeiro trabalho, todo em pedras e pastilhas de vidro. O mosaico levou um mês para ficar pronto e foi produzido no espaço cultural da 508 Sul. Depois, levado até o ponto. E um serralheiro terminou de montar as placas.

Em cima da obra, a clara poesia: “Nem tudo que é torto é errado. Veja as pernas de Garrincha e as árvores do cerrado”. O lugar, que era feio e malcuidado, virou atração. Quem está dentro do ônibus, espicha a cabeça para olhar. Torce para o motorista demorar mais um pouquinho. Quem está fora, pára. Olha. Lê e se distrai.

Reginaldo Carlos da Silva, de 43 anos, vendedor de balas que está ali há 15, admite que a poesia encheu a parada de beleza. ‘‘O ponto ficou mais bonito. O povo pára pra ler, mesmo com pressa. Às vezes até copia’’, entrega.

Sonho e solidão.

A segunda parada a ser contemplada com a obra de arte dos Loucos de Pedra foi a da 711 Sul. Lá, o autor escolhido foi o poeta Cassiano Nunes, de 83 anos. Um dos mais consagrados escritores de Brasília. E um dos que mais retrataram a cidade que escolheu para morar faz mais de 40 anos.

Confeccionado na casa de Gougon, o totem é todo em granito, mármore, espelho, cerâmica, vidro quebrado de pára-brisa e pastilhas de vidro. Cada um dos artistas trouxe um pouco do material. E assim, juntos, produziram a poesia da 711 Sul.

O poeta Cassiano, que se recupera de problemas de saúde e mora duas ruas atrás do ponto de ônibus, há dois meses foi convidado para dar um passeio até a parada. No caminho, comentava com os artistas sobre o ponto de vandalismo em que se transformaram as paradas. Ao chegar à frente do prisma, foi tomado pela emoção. Não acreditou no que seus olhos viam. Lá estava sua poesia transformada em obra de arte. No meio de uma parada de ônibus, para todo mundo ver:

— ‘‘Moro numa canção — área quase sitiada entre o sonho e a solidão. Como posso queixar-me de solidão, se possuo a noite e a canção? A noite é tão vasta que me perco nela! Amor! Acenda a estrela da tua janela! A pedido do Correio, o poeta Cassiano voltou ao lugar onde foi homenageado. Andando a passos lentos, deixou a emoção falar mais que as palavras: ‘‘A poesia é uma forma de realização. De humanismo. É o que todos procuram: a valorização da vida e o respeito entre as pessoas’’. E, num dos momentos mais emocionantes da manhã de ontem, o escritor fez uma revelação, um misto de orgulho e sensação de dever cumprido: ‘‘Moro nessa mesma casa há 38 anos.

Depois da poesia no ponto de ônibus, todos os meus vizinhos agora sabem o que faço. Sabem que sou poeta’’. No meio do caos A diarista Maria José de Castro, de 42 anos, descobriu que aquele homem de andar comedido é poeta. Descobriu que poesia é fácil. Que pode ser lida e feita por qualquer um. Aprendeu a sentir o gosto que as palavras impregnam na memória. ‘‘Vou daqui até Ceilândia repetindo os versos que li na parada. Nem vejo a viagem passar’’. E planeja: ‘‘Tô até pensando em escrever também. Acho que posso fazer isso...’’ Enquanto esperava o ônibus que a levaria a Taguatinga, a estudante Simone de Jesus Fonseca Pires, de 18 anos, apaixonou-se pela poesia no meio do caos. ‘‘Muda a cara do lugar. Deixa menos feio. Dá vida.’’

O vendedor de balas da 711 Sul, Manoel Pereira Neto, paraibano de 25 anos, tem vivido dias agitados depois que a parada onde trabalha foi invadida pela poesia. ‘‘Quando tá muito sol, eu coloco minha cadeira lá, bem no meio dos dois prismas. Aí, o povo que passa de ônibus pede, da janela, pra eu sair do lugar. Eles querem ler a poesia. Falta quebrar o pescoço...’’ Na 707/708 Sul, foi finalizado o mais atual trabalho da equipe de Gougon. Lá, a poesia de Fernando Mendes Vianna provoca e atiça. ‘‘Dentro da pedra esperar. Respirar. Ruminar a pedra... E descobrir a palavra que abre a pedra’’. Ao ver as paradas repletas de poesia e sua obra de arte provocando a reação positiva das pessoas — ainda longe do vandalismo —, Henrique Gougon revela: ‘‘Nossa idéia é fazer a antologia poética de Brasília em cada ponto de ônibus da cidade’’. Depois, explica o verdadeiro sentido do seu trabalho: ‘‘As pessoas vão perceber que pode ser muito simples fazer poesia’’. Que venham os poetas e suas poesias, então!

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Postagem do dia 25/07/2008 - publicada no site http://bodegaonline.blogspot.com/

Loucos de pedra

Foto: Herick Murad


Brasília vive um momento especial. Prepara-se para comemoração de seus 50 anos em 2010 e vive a expectativa de ser escolhida uma das sedes da Copa do Mundo em 2014. Para alguns analistas a escolha é dada como certa. Como toda grande cidade que se prepara para festividades desse nível, Brasília precisa em um curtíssimo tempo, oferecer melhores condições de infraestrutura aos moradores e visitantes que por aqui estarão. Essa caminhada requer uma população consciente do que está por vir. De olho nas ações a serem implementadas. E um poder público atuante, certo do papel de buscar as melhores alternativas para todos.

As ações incluem melhorias na segurança pública, disponibilização de mais leitos nos hotéis, atenção especial à conservação e manutenção dos monumentos e pontos turísticos da cidade, por exemplo. Afinal, a capital pertence ao seleto grupo de cidades Patrimônio da Humanidade. No entanto, nenhuma questão chama tanto atenção quanto a do transporte público.

Brasília se transformou em verdadeiro canteiro de obras. Reclames em cima de reclames publicados no horário nobre. Viadutos, duplicação de vias, ampliação do metrô, renovação da frota de ônibus coletivos e substituição das chamadas vans do transporte alternativo por microônibus. Ainda estão previstos 600 Km de ciclovias em todo Distrito Federal e a implantação do VLT e VLP. Veículos leves sobre trilhos e pneus, respectivamente. Incrementos vitais estão sendo feitos pelo governo local somados a esforços que vem desde o Palácio do Planalto até o Banco Mundial. Em meio a essa faxina, que mais do que bem intencionada cheira a reeleição, uma medida me chamou atenção.

Baseados no projeto Brasília Limpa do GDF, há pouco mais de dois meses, fiscais da Administração de Brasília derrubaram a marretadas alguns tótens poéticos instalados nas paradas de ônibus da avenida W3. Alegaram que as placas atrapalhavam o acesso aos ônibus. Mas desde quando esses funcionários entendem de acessibilidade, mobilidade ou qualquer coisa relacionada a transporte público? Não eram quaisquer pontos de embarque e desembarque de passageiros entregues a correria do dia a dia. Eram paradas poéticas. Ali existiam belos mosaicos com textos poéticos. Poesia cravada nas veias da cidade. Trabalho idealizado há quatro anos pelo artista plástico e líder do grupo de artistas e poetas Loucos de Pedra, Henrique Gougon (61).

É uma lástima e uma tremenda burrice medida tão impopular e despropositada. Temos grandes e graves problemas no transporte público que estão sendo resolvidos. Mas desde quando poesia atrapalha a vida? O ir e vir de quem precisa tomar um coletivo? Os mosaicos não descaracterizavam a cidade e suas áreas tombadas. Muito pelo contrário, com suas mensagens contribuíam sim, para organização de um ideal de paz. Além disso somavam-se a construção da identidade de Brasília. Cidade que por ser jovem, e mesmo dispor de um sem número de elementos que a identifique, ainda é carente de referenciais desse tipo. A mesma poesia concreta que recebe o descaso das autoridades locais, enfeita com dizeres de Paulo Freire os jardins do MEC na Esplanada.

A foto que ilustra este post é um manifesto do grupo Loucos de Pedra contra a demolição dos mosaicos instalados nas paradas 509/510 Sul da W3. Na ausência das placas poéticas publicaram seus mosaicos nas calçadas. Versos de P.J. Cunha que emocionam àqueles que ali enxergam adiante. Longe da miopia de certos burocratas e "bem intencionados" de plantão. Tentem acabar com os mosaicos da W3, mas demolir o chão e a poesia incrustada nos corações dos que por ali vivem e passam, realmente não dá. Há mais o que se fazer, de fato, por esta cidade.