31 maio 2006

Só mesmo a arte...

Foi luz e trevas, foi calor e frio, foi tudo e nada.
Encheu-me a consciência da minha insignificância,
De que nada posso e de que aquilo que quero não conta.
É hoje certeza de que o que possuo não é meu mas do destino.
E ontem, já só braseiro, alimentou-me a solidão,
Pois tu não estavas...
Ah, se os teus dedos pudessem limpar a fuligem dos meus olhos
E a tua boca varrer as cinzas que cobrem a minha,
Por baixo estaria um sorriso à tua espera
E sentir-me-ia compensada!
Vem! Depressa!

Maria Branco

26 maio 2006

Metalingüisticamente, ou não...




Compoema - Vânia Sousa

Não poeto,
nem poetizo...

Não componho,
nem concretizo...

Apenas compoemo,
compoetizo...






Arte mórbida – Vânia Sousa

Não mereço consideração
Nem tão pouco palavras suas
Nem quando abro o coração
Ou quando trago minha alma nua

Entendo sua razão
Para afastar minha procura
Desmerecida em minha paixão
Vago miúda por entre as ruas

Cruzando esquinas
Pisando em letras
Desfalecendo em rimas
Morrendo em poemas


A todos um belíssimo final de semana...


24 maio 2006

Desapego...

Como se fosses noite e me atirasses
uma corda de músculos e rosas.
Como se fosses noite e me deixasses
deslumbrado com todas as sombras,
com todos os silêncios,
com todos os passeios de mãos dadas com o impossível.

Com todos os minutos,
Os lentos, os belos, os terríveis minutos que se escoam com a angústia nas escadas.
Como se fosses noite e acordasses
todos os olhares furtivos aos bancos vazios,
todos os passos hesitantes que ninguém segue
mas que deixam na rua deserta,

na cidade ausente,
o arabesco triunfal de um arcanjo que passa,
o rasto vitorioso dum condenado que dança,
rindo dos deuses que o julgaram.

Ary dos Santos

21 maio 2006

Lya Luft

Dei uma geral no meu pc neste final de semana e encontrei mensagens preciosas, uma das que compartilho com vocês é a que segue. A todos um ótimo começo de semana.

Quase tudo mudou, mas a essência permanece a mesma: a nossa essência.
Vertiginosamente no século passado a sociedade mudou, a família mudou. Transformou-se a cultura, evoluíram tecnologia e ciências, tudo avança em uma velocidade inimaginável, há 50 anos.
Porém as emoções humanas não mudaram.
Nem ao menos somos originais. Nossos desejos básicos hão de ser os mesmos: segurança, afeto, liberdade, parceria; sentir-me integrado na sociedade ou na família, ser importante para meu grupo ou ao menos para uma pessoa – aquela que é o meu amor. Não preciso ser um rei para ser importante, mas devo me sentir apreciado.
Isso me determinará tanto quanto o primeiro olhar que incidiu sobre mim. Devo considerar capaz e merecedor, sem megalomania, sem alienação. Dentro do que está aí para que eu o escolha, o modifique, o faça meu.
Não tem a ver com dinheiro, posição social, nem com soberba, mas com o modo como somos avaliados – por nós e pelos que amamos. Minhas ações e desistências nascem desse conceito primeiro.
Não importa se sou operário, doméstica, motorista, camponês ou alto executivo, atriz vitoriosa ou obscura balconista: gosto de mim na medida em que acredito na minha dignidade, quero me expandir conforme meu valor. E também segundo o quanto acho que vale a pena esse salto, esse crescimento, essa entrega. Depende de minha confiança.
Isso tudo não se instalou em nós através de palavras ensaiadas para ocasiões especiais ou crises. Estrutura-se subliminarmente no convívio diário, paira no ambiente, brilha na pele (...).
(...) Se achar que não valho nada, serei nada. Deixarei que outros falem, decidam, vivam por mim. Porém, se acreditar que apesar dos naturais limites e do medo todo eu mereço uma dose de coisas positivas, vou lutar por isso.
Vou até permitir que os outros me amem.

Trecho do livro Perdas e Ganhos, de Lya Luft.

20 maio 2006

Meta...

Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.

Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.

Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.

Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.

E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.

Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.

É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?


A seta e o alvo - Paulinho Moska

Ultimamente tenho ouvido muito esta música, nem sei bem o porquê, mas de épocas algumas músicas me pegam, atualmente está sendo essa.
Aos que por aqui passam deixo beijos e desejo a todos e um ótimo final de semana.

16 maio 2006

Amor...

Tema reduntante deste blog, porém eu não poderia deixar de postar um texto que li no livro Metafísica do Amor e Metafísica da Morte, de Arthur Schopenhauer. É um trecho do romance Guzman de Alfarache, de Mateo Aleman, o qual achei muito bonito:

No es necesario, para que uno ame, que pase distancia de tiempo, que siga discurso, ni haga elección, sino que com aquella primera y sola vista, concurran juntamente cierta correspondência o consonancia, o lo que aca solemos vulgarmente decir, uma confrontación de sangre, y que por particular influxo suelen mover las estrellas.

Tradução:
Para que alguém ame não é necessário que passe muito tempo, que empregue ponderação e faça uma escolha; mas apenas que, naquele primeiro e único olhar, encontre-se uma certa adequação ou concordância mútuas, ou aquilo que aqui costumamos vulgarmente designar como uma simpatia de sangue, e que com particular influxo move as estrelas.

11 maio 2006

Mensagens...

E há sempre mensagens que nos encantam. Minha amiga Cátia que me mandou esta e compartilho com vocês. Eu amo Saramago e adorei a indicação da mensagem...

Na ilha por vezes habitada - José Saramago

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer. Então sabemos tudo do que foi e será. O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam. Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos. Com doçura. Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a vontade e os limites. Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mungo infatigável, porque mordeu a alma até os ossos dela. Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz. Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste.

E como ando estudando bastante, encontrei em meio aos estudos algo que tenho certeza que minha amiga gostará...rs...pra você Cátia:


"Na verdade, não há prática que não tenha nela embutida uma certa teoria (...). Sem teoria, na verdade, nós nos perdemos no meio do caminho. Mas, por outro lado, sem prática, nós nos perdemos no ar. Só na relação dialética, contraditória, prática-teórica, nós nos encontramos e, se nos perdemos às vezes, nos reencontramos por fim".

Paulo Freire

09 maio 2006

Insônia...

A noite realmente faz com que os pensamentos inundem, ainda mais quando estimulados por um livro que li: Cem Escovadas Antes de Ir Para a Cama, de Melissa Panarello, fica aqui a dica para leitura e o poema que brotou do turbilhão de pensamentos, após as duas da manhã, que só quando anotei-o pude recuperar meu sono...


Vertigem - Vânia Sousa

A noite, na cama,
rolando, insana,
procuro, profana,
o teu desejar...

Me sinto covarde,
sofrendo em alarde,
temendo ser tarde,
voltar a te amar...

Sem sono revejo,
meu doce desejo,
teu corpo que almejo,
sobre mim a pesar...

Desperta-me e some,
deixando-me insone,
sem saber nem o nome
ao qual devo clamar...

Obs.: Não é à toa que até o horário do trabalho, hoje, eu perdi...rs

07 maio 2006

Paciência...

Tenho me deslumbrado com tantos sites que descobri, alguns já estão aqui linkados, outros estão por linkar, mas o que me agrada é perceber como há tanta diversidade e tanta coisa boa nesse mundo. Artistas que brincam, pintam e bordam com as palavras e me proporcionam horas de prazer ao lê-los.
Na falta de tempo para criar, sigo me inspirando ao espiar a criação dos vários talentos que vou encontrando ao longo do caminho e venho hoje aqui, na companhia de um artista que gosto muito: Lenine e aproveito para desejar a todos um ótimo começo de semana...


Paciência - Lenine

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara, tão rara

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára, a vida não pára não

04 maio 2006

Diferença...


Gente-Bicho ou Bicho-Gente?

A grande barra da
vida é que a gente é
gente

e sente como
qualquer bicho sente...

A grande barra de
gente é a solidão.

A diferença?

O bicho se basta.
A gente, não.


Olympia Salete Rodrigues

03 maio 2006

Ilusão...

(Ilusão - Abstracto Concreto)

Longe demais - Vanessa da Mata

Beijei seu rosto e guardei
Achei sincero e sem dúvida
Era quase de manhã, era madrugada
A noite esconde a cidade, você some
Será que é cria da noite e eu não sei
As horas cessaram naquela manhã que vem
E é outro dia

Será um desencontro e eu vou sozinha?
Ele não dá um sentimento
Será um jogo intenso que se anuncia
Ele ri e sabe o que faz?

Te quis pra minha vida, todo o tempo esperei
E a vida agora está em torno de você
Amanhã é longe demais
Pra quem não tem
Pra quem não sabe

Te quis pra minha vida, todo o tempo esperei
E vida agora está em torno de você
Amanhã é longe demais
Pra quem não tem a eternidade.

Mensagem subliminar: Inventei o teu rosto na palma da minha mão...

02 maio 2006

Memória...



Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade