24 maio 2006

Desapego...

Como se fosses noite e me atirasses
uma corda de músculos e rosas.
Como se fosses noite e me deixasses
deslumbrado com todas as sombras,
com todos os silêncios,
com todos os passeios de mãos dadas com o impossível.

Com todos os minutos,
Os lentos, os belos, os terríveis minutos que se escoam com a angústia nas escadas.
Como se fosses noite e acordasses
todos os olhares furtivos aos bancos vazios,
todos os passos hesitantes que ninguém segue
mas que deixam na rua deserta,

na cidade ausente,
o arabesco triunfal de um arcanjo que passa,
o rasto vitorioso dum condenado que dança,
rindo dos deuses que o julgaram.

Ary dos Santos

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