17 julho 2006

De volta ao planeta dos macacos...

Empoçada de instantes, cresce a noite
Descosendo as falas. Um poema entre-muros
Quer nascer, de carne jubilosa
E longo corpo escuro. Pergunto-me
Se a perfeição não seria o não dizer
E deixar aquietadas as palavras
Nos noturnos desvãos. Um poema pulsante
Ainda que imperfeito quer nascer.

Estendo sobre a mesa o grande corpo
Envolto na sua bruma. Expiro amor e ar
Sobre suas ventas. Nasce intensa
E luzente a minha cria
No azulecer de tinta e à luz do dia.
Hilda Hilst

Não tenho criado nada por conta de vários afazeres do dia-a-dia, mas não posso deixar de atualizar este meu cantinho e compartilhar com vocês a embriaguez amorosa em que me encontro, então seleciono aqui belos poemas que falarão por mim...beijos aos que passam e tenham lindos dias...

Soneto puro

Fique o amor onde está; seu movimento
nas equações marítimas se inspire
para que, feito o mar, não se retire
das verdes áreas de seu vão lamento.

Seja o amor como a vaga ao vago intento
de ser colhida em mãos; nela se mire
e, fiel ao seu fulcro, não admire
as enganosas rotações do vento.

Como o centro de tudo, não se afaste
da razão de si mesmo, e se contente
em luzir para o lume que o ensolara.

Seja o amor como o tempo — não se gaste
e, se gasto, renasça, noite clara
que acolhe a treva, e é clara novamente.

Ledo Ivo

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